sábado, 9 de outubro de 2010

Planeje

"Era uma casa muito engraçada,
não tinha teto não tinha teto não tinha nada.
Ninguém podia entrar nela não,
porque na casa não tinha chão.
Ninguém podia dormir na rede,
porque na casa não tinha parede.
Ninguém podia fazer pipi,
porque pinico não tinha ali.
Mas era feita com muito esmero,
na rua dos bobos, número zero"


Ela acordou com aquela música na cabeça e pensando o quão sortudo seria o morador dessa casa. Principalmente se lá não tivesse campainha nem celular. A razão?
Sabe aquelas manhãs reservadas na sua agenda para dormir? Era uma delas. Mas foi inocência da menina achar mesmo que morando na casa onde mora poderia separar uma manhã para isso.

Dormir...ahh dormir. Ela iria dormir até o sono acabar, como não fazia há tempos. Acordar sem despertador. Domir e acordar com migau das almas e remela nos olhos. O sono dos justos.

Mas quem foi que disse que o mundo é justo?

Começou 5:30 da manhã. O despertador do celular da mãe tocou ao menos 5 vezes sem que a progenitora apertasse aquele botãozinho "para de gritar!!!". Estava quase aceitando o convite do namorado para ir correr na praia às 7 da manhã. Não que achasse cedo praia esse horário, com o sol de cidade da linha do equador, o sol das 7 parece o das 9 do resto do país; o problema é que a manhã já estava reservada. O despertador parou.

Às 8, acredita, uma ligação. Filha, pra você. Assunto particular, de interesse da bela adormecida, mas te juro; ela não ligava de esperar mais 4 horas antes de receber a notícia. Não mesmo.
O telefone sem fio ficou ao lado do travesseiro, nem se deu ao trabalho de levantar, que era pra não correr o risco de perder o sono. Doce ilusão. Não era casa de parteira, nem estava na lua cheia, mas por volta das 9 o telefone tocou. Sendo que o sádico não se contentou em tocar, o fez de maneira especial, veja só:
O telefone com fio tocou 4 vezes sem que o sem fio - aquele que estava logo alí ao lado do travesseiro- desse sinal de vida. Vai que é importante? Levanta e se prepara pra correr e atender o aparelho na ponta oposta da casa, quando por ironia do destino o sem fio resolve tocar. Alívio? O caralho. A merda do telefone chiava mais que tudo no mundo e ela teve sim que pegar o outro. O que não seria mais problema, já estava em pé de qualquer jeito. Problema mesmo é trocar de telefone e fazer "pronto, agora eu escuto" e o ser humano ainda não identificado do outro lado da linha desligar. Como pensou ter ele/ela dito algo como "está chiando muito...bláblá", esperou pacientemente incontáveis minutos ao lado do telefone um retorno.

haha...era só fazer uma leitura do dia ainda em início pra saber que o telefonema foi só pra te tirar da cama, pobre alma.

Mas vamos lá. A pobre alma sonolenta esperava o retorno quando aquela -mas não qualquer uma, daquelas mesmo- vontade de fazer xixi chegou do nada, como se ela o prendesse há 3 horas enquanto olhava para a Cachoeira do El Dorado na época de cheia. Vou esperar né? Vai que já está ligando? Pobre alma mesmo...quando finalmente resolve tirar aguinha do joelho, já está de pé, pronta pra correr, o telefone toca. Outro assunto particular, que não era pra ela e podia esperar.
Beleza, é a vida. Desiste de dormir. Já são 10:30, o sono se foi. Só lhe restava um banho, escovadela de dentes, tomar café e ir à manicure.
Fez seu desejado xixi e procurou na cozinha um pão pra saciar seu desejo de pão com manteiga e café com leite. Um simples desjejum. Só que não tinha pão. Nem se importou mais, telefonou à mãe pedindo que na volta de seu compromisso passasse na padaria e se preparou para um banho.

Toalha no ombro. O celular toca. Era seu namorado. Tomo banho depois. Ele fora correr na praia e perdera a carteira com todos os documentos.

Sua mãe chegou. Não tinha pão.

Talvez o dia só não seja dos melhores.